Salpicar, adicionar, mexer, experimentar, corrigir, bater, esperar, medir....
Na cozinha estamos sempre adicionando e experimentando, descobrindo novos sabores e nos abrindo a novas possibilidades. A cozinha é o lugar do experimento, onde o erro pode se transformar num ótimo acerto, o lugar do risco e da alegria, onde a arte se mistura com a tradição e o prazer de transformar.
Abre-se não só mais um espaço para trocas de sabores, mas também para trocas de saberes. Bom apetite!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Amor Proibido

Ontem criei uma receita nova...
Chocolate, canela, gengibre, melado e banana. Quente e doce como um amor proibido...
Coisa boa! rsrs
Amor concretizado e enrolado em papel manteiga.
Espera no forno pra ser saboreado no final do jantar. Surpresa quente, embrulhada, aberta aos poucos...
Uma bola de sorvete de creme pra acompanhar e amenizar o calor.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Um quilo de sal, seis quilos de açúcar

No mês passado, fui convidada por Laura Tamiana para cuidar da alimentação de 30 mulheres. Almoço e jantar por 7 dias.
Laura e Tatiana Devos Gentile são criadoras do projeto: " Retrato: Substantivo Femenino", um projeto muito sensível que abraçou mulheres de diferentes comunidades, todas brincantes. Mulheres do cavalo marinho de Pernambuco, do reinado de Minas Gerais e do batuque de umbigada de São Paulo, onde cada uma delas, munidas de filmadoras e máquinas fotográficas, registraram um pouquinho do seu olhar sobre sua cultura, seus amores e sua vida.
Reuniram-se todas em São Paulo, num hostel na V. Madalena para participarem da exposição de mesmo nome que acontece no SESC Ipiranga até dia 19 de novembro.
Caí no meio delas!


E lá fui eu com minhas panelas e colheres de pau, enchi a despensa do hostel de feijão, arroz, carnes, verduras, frutas e coragem.


Dia 11 de outubro, terça feira, chegaram as pernambucanas: D. Preta, Ivanice, Jaclécia, Jaline, Anielly, D. Benedita, Nicinha, Dia e Luzia. A anjinha Renata e Viviane, assistente de produção.
As recebi para o jantar com um escondidinho de purê de batata com carne moída, couve e arroz.


Dia 12 de outubro, quarta feira, dia de Nossa Senhora de Aparecida. Minha avó Carmelita, 90 anos, alagoana, faleceu. Mergulhei de vez na cozinha! Fui a noite preparar o jantar.


Dia 13 de outubro, quinta feira. Chegam as paulistas: D. Anecide, D. Tereza, D. Iza, D. Marta, D. Esmeralda, D. Benedita, D. Odete e Juliana. Mais tarde as mineiras: D. Isabel, D. Iaiá, Guidinha, Belinha, Dinarê, Késsia, Suelen e Luciene.
Entre um refogado e outro escuto da cozinha as risadas e conversas. Me encanto com a beleza delas! Termino o dia deixando tudo limpo e organizado para o dia seguinte, sensação boa de missão cumprida.


Dia 14 de outubro, sexta feira. Correria, cansaço.
Almoço e jantar para 30 mulheres, pica, lava, refoga, cozinha, ferve, tritura, serve, organiza. Almoço com elas e converso, ouço as histórias de D. Preta, Nicinha, Ivanice, D. Esmeralda e D. Odete. Aprendo uma nova forma de contar os meses com D. Preta: " Janeiro, Fevereiro, Março, Abril, Abril, Maio, S. João, Santana, Agosto, Setembro, Verão"
Final do dia, esgotada e feliz por mais um dia que deu certo!
Entro no carro e choro, lembrando e sentindo a energia de todas elas, de todo o agradecimento delas por eu estar ali, cuidando e alimentando. Fui refletindo sobre o ato de alimentar. Quem se alimenta? Eu ou elas? Eu preparo o alimento, elas me devolvem em pura energia chamada amor, que penetrava na minha mente, que me envolvia e me cuidava. Quem cuida de quem? Troca!


Dia 15 de outubro, sábado. Volto a mergulhar nas panelas! Mais almoço e jantar cheio de conversas e abraços, agradecimentos e trocas.


Dia 16 de outubro, domingo. Último jantar com todas juntas. Preparei um pudim de leite para a sobremesa. Guidinha queria o pudim só pra ela, mas o doce foi repartido entre todas!
Noite de despedidas. Orações, cantigas, choros e saudade antecipada. Belinha me olha nos olhos e me abraça!


Dia 17 de outubro, segunda. As paulistas se vão, me despeço de D. Benedita, 94 anos, beijando sua mão como um pedido de benção. Durante toda a semana não ouvi sua voz, mas naquele momento, da despedida, ela me diz: " Eu sou a mulher mais velha que tem aqui. Não tem nenhuma mulher mais velha do que eu."
Mais tarde nos despedimos das mineiras. Belinha segura minhas mãos e me deseja boa sorte, me deixa um terço de presente. Mais choradeira e saudade.


Dia 18 de outubro, terça feira. Última despedida, lá se foram as pernambucanas, cacimbinhas cheias d'água, transbordando...
Abraços apertados como quem não quer se largar. D. Benedita me abraça aos prantos dizendo que sentirá minha falta, que se apegou muito a mim! Beijos, cheiros e a promessa de voltar a se ver novamente. Muito amor!


Foi um trabalho abençoado! Cheio de trocas, de amor, de energia.
Alimentar e alimentar-se!
Um trabalho que me modificou profundamente, que me marcou profundamente! Nunca mais vou cozinhar sem me lembrar delas!
Eu estava lá, na comida que preparei, inteira, dedicada, esforçada, corajosa, tempero que não podia faltar: o melhor de mim!
Foi um quilo de sal, mas foram também seis quilos de açúcar!


Nicinha, D. Preta e eu

Eu e Belinha

Em breve postarei mais fotos...